Mineiro-Pau

1930

Mineiro-Pau

Texto por Keila Gomes

O Mineiro Pau tem suas raízes nas plantações de café trabalhadas por escravos africanos nas cidades entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. A dança envolve o uso de bastões de madeira por duplas, em que um ataca e o outro defende em sincronia. Os pares se movem em filas opostas ou círculos, seguindo a batida dos bastões. A música inclui instrumentos como sanfona, zabumba, pandeiro, triângulo e chocalho. Um grupo de cantores (pastorinhas) acompanha a dança com cânticos ora lembrando o ritmo da Folia de Reis, ora lembrando o ritmo do baião.

Fotografia colorida, diúrna, com três casais fotografados apenas da cintura para baixo, aparecendo uma pequena parte da camiseta. Um casal está na frente, e dois casais atrás, alinhados lado a lado, todos virados para o lado direito. Os meninos trajam calças brancas e camisas floridas, e as meninas, camisas brancas e saias floridas. Todos portam um cajado de madeira, e estão descalços sobre o chão de terra.
Apresentação de Mineiro Pau na festa das crianças da Obra Social Filhos da Razão e Justiça - OSFRJ em Santa Cruz, 2023. Foto por Viajante Liríco.       
Fotografia diúrna, colorida, fotografada da cintura para baixo, de quatro mulheres dançando. Elas trajam longas saias floridas, e estão descalças sobre o chão de terra. Ao fundo, algumas mulheres assistem, sentadas em um banco.
Apresentação de Mineiro Pau na festa das crianças da Obra Social Filhos da Razão e Justiça - OSFRJ em Santa Cruz, 2023. Foto por Viajante Liríco.       

Em Santa Cruz, a dança chegou nos anos 1930 por meio de Seu Valdemar Madalena, nascido em Santo Antônio de Pádua, onde o Mineiro Pau também é mantido de geração em geração, sendo preservado pela obra social "Filhos da Razão e da Justiça", no sub-bairro com o mesmo nome da manifestação cultural.

Juntamente com outras expressões da cultura popular local, o Mineiro Pau incorpora os elementos brasileiros: negro, indígena e europeu. Isso é evidente na vestimenta dos participantes e nas palavras das canções, lembrando a expressão artística negra maculelê que também utiliza bastões de madeira na sua dança.

Fotografia colorida, diúrna, externa, de algumas duplas de crianças dançando uma coreografia. Um integrante da dupla está de frente para o outro, segurando um cajado de madeira, tocando o cajado da outra dupla. Elas estão pulando, sorridentes. Os meninos trajam camisa florida e calça branca e as meninas,  blusa branca com gola também florida e longa saia florida. Todas as crianças estão descalças, no chão de terra seca, rodeadas por pessoas assistindo.
Dança Mineiro-Pau, comemoração dos 7 anos da Obra Social Filhos da Razão e Justiça em Santa Cruz - RJ. Foto por Ratão Diniz.     

Após sua introdução na comunidade de Santa Cruz, houve uma forte conexão com as raízes africanas, mas após a morte de Seu Valdemar nos anos 1990, a prática do Mineiro Pau enfrentou um processo de supressão. A crescente violência social e a expansão das igrejas neopentecostais contribuíram para a diminuição das expressões culturais afro-brasileiras na região.

Segundo a pesquisadora histórica da Organização Social Filhos da Razão e da Justiça (OSFRJ), Julia Madeira, houve um processo de "demonização" da dança, com a associação do Mineiro Pau a uma manifestação africana considerada inapropriada aos olhos de Deus. Atualmente, esforços estão sendo feitos para recuperar essa tradição.

Fotografia colorida, diúrna, de duas duplas de jovens dançando, durante uma coreografia segurando um cajado de madeira. O casal em primeiro plano é formado por duas mulheres, que estão se olhando e sorrindo. E atrás delas, está o segundo casal, um de frente pro outro, mas olhando para o primeiro casal que está indo de encontro com os dois cajados ao alto. Eles estão de roupas floridas e pés descalços sobre o chão de terra seca, rodeados por pessoas assistindo sentadas. há algumas casas e árvores, ao fundo.
Dança Mineiro-Pau, comemoração dos 7 anos da Obra Social Filhos da Razão e Justiça em Santa Cruz - RJ. Foto por Ratão Diniz.     

Um exemplo notável é a Comunidade do Mineiro Pau, nomeada após a dança afro-brasileira que marcou a localidade a partir do século 20. Essa expressão cultural enfrentou tentativas de apagamento e racismo religioso, mas em maio de 2023, foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro pela Câmara Municipal.

Entrevista organizada pelos jovens agentes culturais do projeto Habitar a HIstória-Santa Cruz com o André Luiz, voluntário oficineiro da obra social filhos da razão e justiça e mestre em construção da dança Mineiro Pau. Filmagem e edição: Sthefany Andrade | Entrevistador: Viajante Lirico | Entrevistado: André Luiz | Roteiro: Patrick Caline, 21 de agosto de 2023.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Projeto de Lei nº 1620, de 13 de junho de 2022. Autor: Vereador William Siri. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2022. 

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; RODRIGUES, Marcelino Euzebio. A CRUZ, O OGÓ E O OXÊ: religiosidades e o racismo epistêmico na educação carioca. Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), [s. l.], 2013.

GOMES DA COSTA, Julia Madeira; ROCHA, Mirella. MINEIRO PAU: Uma encruzilhada de histórias e saberes.UFRJ 2022

0 comments

Comment
No comments avaliable.

Author

Info

Published in 10/11/2023

Updated in 9/03/2024

All events in the topic Festejos e Cultura popular:


05/1707Os Folguedos de Santa Cruz
01/12/1752Música Sacra e Profana
30/12/1794Padre José Maurício em Santa Cruz
24/02/1891Banda 24 de fevereiroBanda 24 de fevereiro
01/12/1911Blocos carnavalescosBlocos carnavalescos
19/02/1920ClóvisClóvis
1930Mineiro-PauMineiro-Pau
01/12/1934Luiz Bonfá
27/11/1940Emílio Stein
01/12/1940Nichol Xavier
01/02/1940Coretos Carnavalescos
18/02/1959G.R.E.S Acadêmicos de Santa CruzG.R.E.S Acadêmicos de Santa Cruz
23/04/1963Festa de São JorgeFesta de São Jorge
01/12/1976Jotabê
02/02/1976Presente para Iemanjá
01/12/1995Bob Rum
07/08/2008As MariAmasAs MariAmas
01/12/1680CapoeiraCapoeira
06/10/2019Concentra ImperialConcentra Imperial